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Gravando meu primeiro áudio book - por Ignácio de Loyola Brandão

Notícia

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Meu livro de crônicas “Se For Para Chorar que Seja de Alegria,” editado pela Global, será vendido em áudio book. Meu amigo Sergio Fenerich odiaria este audio book aqui, ele é contra anglicismos. Por causa deste áudio book vivo uma experiência nova e curiosa. Uma a mais. Porque o narrador serei eu mesmo. Assim há uma semana, passo as manhãs isolado em um estúdio de gravação, o FX Studios, a ler com muito cuidado, em um tablet. Disse que preferia ler com o livro na mão ou em uma estante e o diretor disse que não. O equipamento é tão sensível que, por mais cuidado que eu tenha para virar a página, o som deste virar é captado. Mais, preciso ficar imóvel, porque qualquer movimento meu pode ser “ouvido” pelo leitor. O ínfimo ranger da cadeira, o pé no chão, o roçar de um dedo sobre a roupa, a respiração. O autor precisa narrar “anonimamente”, oculto. Ouvinte só pode ouvir o texto, nada mais.
Deste modo, todas as manhãs sou imobilizado, colocado com que em uma solitária, a falar. Um prisioneiro de minhas histórias. Para o ouvinte é uma voz que surge do nada, do vazio, do escuro, a lhe contar uma história. Dia desses, o breve som de um leve refluxo interno, mal sentido por mim, foi ouvido pelos técnicos, tive de refazer. Quanto a um pum, nem pensar. Dia desses, quando abriram a porta para que eu saisse senti uma alegria intensa, estava sendo libertado e o tempo da leitura me pareceu infinito.
No segundo dia, tive um pensamento que me travou. E se esta tecnologia de ponta fosse capaz de  captar também meus pensamentos? Um achado que coloquei em meu novo romance, ainda em elaboração. Sensores que gravam pensamentos e os transmitem para uma central do governo.  Calei-me e tente um exercício que me foi impossível, o não pensar. Anular-me inteiro, não mostrar que estava ali. Apenas minha voz existia. Talvez filosofias orientais (ou uma delas) proponham uma tentativa de não pensar, bloquear,  esvaziar a mente. Não sei, há tanto a aprender sobre nós, o humano, a mente, o cérebro. Daí me assustei. O não se mover, o nenhum gesto, nem o piscar, a voz calada, o pensamento zerado, seria vida? Seria viver?
O diretor de gravação e o técnico de som, Durval e Silvano são experientes com textos e nuances. Muitas vezes mudo um verbo, na hora, eles param, corrigem ou indagam: mudou de propósito? Se digo sim, aceitam. Outra vezes recomendam: porque não mudar este tempo verbal, deslocar esta virgula, fazer um ponto aqui?
Uma coisa descobri na primeira leitura. A complicação que é ler em voz alta quando existe uma frase em parênteses. Precisa uma habilidade tremenda para “ler” o entre parênteses, mesmo que seja uma única palavra. Isso já valeu para a escrita. Tentar eliminar, ou eliminar de vez o parênteses nas frases. Ao menos em textos mais curtos como os de uma crônica. Detalhes que podem melhorar a minha escrita ou a de um outro. Esta semana ainda viverei enclausurado em minha cela, o estúdio, onde me abstraio de tudo, para poder repassar ao ouvinte minhas ideias, personagens, situações. O clichê vivendo e aprendendo é real.
 
Ignacio Loyola e Durval Gama